segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Valioso Tempo dos Maduros

Recebi um e-mail que continha esse texto de Mário de Andrade.
Não preciso falar que o conteúdo é maravilhoso e que me identifico totalmente com ele.


O Valioso Tempo dos Maduros
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do 
que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu 
uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em 
reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis
sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da
idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram
pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. 'As pessoas não debatem conteúdos,
apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa... Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera
eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena, e
para mim, basta o essencial!
Mário de Andrade (1893-1945)

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